Realizado em dois dias, e com participação aberta ao público, evento inicia com o debate “Os diversos caminhos da maternagem” com relatos emocionantes de mães da Justiça do Trabalho.

Imagem dos participantes em reunião virtual

Aconteceu, na tarde da terça-feira, 11, a abertura da programação “Ser Mãe”, realizado pela Escola Judicial do TRT8, em parceria com a Amatra8 e as Comissões de Incentivo à participação Feminina da Justiça do Trabalho e de Acessibilidade. O evento é realizado em comemoração ao mês de maio, conhecido como o mês das mães, e está sendo transmitido pro meio do canal da Justiça do Trabalho da 8ª Região no Youtube.

Aabertura contou com a fala da vice-diretora da Escola Judicial da 8ª Região (EJUD), juíza do Trabalho Maria de Nazaré Medeiros, que apresentou os objetivos dos debates pautados para os dois dias do evento. “O mês de maio é de grande reflexão para que todas possamos debater coletivamente sobre os diversos caminhos da maternagem, no sentido de que a conciliação das atividades domésticas e de família ainda é discrepante entre o feminino e o masculino, visto que não há uma distribuição igualitária dessas atribuições entre os dois (…). Por isso estamos aqui, para refletir sobre a concretização da igualdade de gênero. Nosso compromisso é conscientizar homens e mulheres a efetivar as normatizações que já existem sobre essa igualdade e, ao mesmo tempo, criar novas legislações para corrigir as distorções que ainda existem. (…) Tudo isso perpassa pela sensibilidade da maternagem.”

Logo após, a mediadora do bate-papo “Os diversos caminhos da maternagem”, juíza do Trabalho do TRT8, Roberta Santos, deu início à conversa, distinguindo as expressões “maternidade” e “maternagem”. Segundo os conceitos, enquanto “maternidade” se restringe aos laços sanguíneos e de parentesco entre mães e filhos(as), a “maternagem” envolve todos os laços sentimentais, de cuidado e amor que as mães possuem na relação com seus filhos, independente da biologia. Por isso, a magistrada afirma que é importante “ouvir mães que nos fazem pensar na maternagem enquanto instrumento social”, como é o caso de todas as participantes da programação.

A fala de Roberta deu voz à Edilene Franco, juíza aposentada da Justiça do Trabalho da 8ª Região e mãe adotiva de Bia e Luiza, de 23 e 19 anos, respectivamente. Ela se denomina “mãe de coração” das duas, e relata a experiência da sua maternagem como desafiadora. Apesar do orgulho que as filhas possuem em serem filhas “escolhidas” de Edilene, a mãe relata uma experiência de racismo que Luiza enfrentou: “Por ter a pele escura, ela foi impedida por uma professora de ser a ‘Branca de Neve’ em uma peça da escola. Essa situação a abalou bastante e só fui saber depois de muito tempo que aconteceu(…). Mas as pautas sociais sempre foram muito bem discutidas dentro de casa e, por conta disso, as meninas sempre souberam seu lugar na sociedade e que podem ser o que quiserem”. Por fim, a Dra. Edilene ressaltou o seu grande amor pelas filhas, tanto que se aposentou e se mudou para Portugal para ficar mais perto delas.

A seguir, a fala foi da servidora do TRT8, Simone Miglio Müller, diretora da 1ª Vara do Trabalho de Belém, mãe de Gabriel, Lucca e Giovanni, que compartilhou sua experiência enquanto “mãe solteira” e a superação de seu divórcio. Desde antes da separação, a servidora conta que teve diversas dificuldades em conciliar a maternagem com seus estudos e sua carreira, dificuldade que aumentou ainda mais, após se separar. Com todos os problemas, conta que entrou em um processo depressivo, que foi superado após uma epifania: “Nós mulheres, temos forças para trabalhar, cuidar dos filhos, da casa, da família, do corpo, ir à academia etc. Por que não superar um divórcio? A gente é muito forte, e essa é só mais uma dificuldade.” Emocionada, ela também fez um discurso orgulhoso por tudo o que passou e por poder externar seu sentimento para todo o público da programação: “hoje superei muitos medos e estou casada novamente. Fiquei muito orgulhosa quando meus filhos chamaram meu marido de ‘segundo pai’ em uma publicação nas redes sociais”.

Claudirene Andrade Ribeiro é juíza do Trabalho do TRT23, e conta como a maternagem torna-se um ato de representatividade na sociedade contemporânea. Filha de uma família interiorana da zona rural do Mato Grosso, Claudirene foi a primeira de sua casa a seguir a carreira acadêmica, mesmo sem ter referencial nenhum de pessoas ao seu redor que tivessem uma experiência parecida. Após se formar em geografia, entrou na faculdade de Direito por um sonho, segundo ela, velado, de seu pai. Teve sua primeira filha – não planejada – quando aspirava um crescimento em sua carreira, fruto de um relacionamento com algumas dificuldades, das quais ela conseguiu superar, embora tenha entrado em depressão no decorrer disso. Ela conta que encontrou forças para continuar estudando para ser juíza em sua filha, Cássia: “Quando ela tinha 2 anos, consegui ser aprovada no concurso para ser juíza do Trabalho no TRT da 14ª Região. (…) Eu não tinha referencial, por isso, quero ser o referencial de minhas filhas”, diz Claudirene, que também é mãe de Maria Rita, de 8 anos. A Juíza ainda afirma que se orgulha de sua trajetória e quer passar isso para a sua família: “Eu precisava que minhas filhas conhecessem minha história, porque senão, dificilmente elas iriam entender minha ‘travessia’ ”,definindo a expressão como um sinônimo de superação.

Outro discurso bastante emocionante da tarde foi o de Camila Afonso de Nóvoa Cavalcanti, juíza do Trabalho do TRT8 e Presidente da Comissão de Acessibilidade do Tribunal. Seu filho, Pedro, é autista, e, sendo titular de uma Vara do Trabalho em Macapá (AP), ela teve que voltar a morar em Belém para acompanhar seu tratamento: “Na época, estava na Vara do Trabalho de Itaituba e deixei o Pedro em Belém, com o meu marido, e vinha para ficar com ele aos finais de semana. Apesar de tudo isso, o Pedro foi diagnosticado, em primeiro caso, com transtorno vincular, relacionado principalmente à falta da minha presença”. Apesar de ser “crucificada” pela condição do filho, Camila conta que não desistiu até encontrar o real diagnóstico do filho: “depois de tudo isso, ele finalmente foi diagnosticado com autismo e a equipe médica pediu para que eu ficasse do lado dele durante todo o tratamento. Ele me falou que é impossível um tratamento eficaz para o autismo sem a presença da família”. Por conta dessa situação, ela abriu mão da sua titularidade, já em Macapá, para cuidar de Pedro: “O autismo é uma característica como qualquer outra, mas o Pedro precisa estar de mãos dadas com a família para saber que ele pode fazer qualquer coisa”.

O relato seguinte foi o da magistrada Renata Bonfiglio, juíza do Trabalho do TRT2. Ela é deficiente física – pois não possui a mão direita – e falou sobre a importância de entender que não é uma ‘mãe perfeita’, externando experiências próprias com seu filho João, de 3 anos, e citando a teoria da ‘Mãe suficientemente boa’, de autoria do pediatra e psicanalista inglês Donald Winnicott. Segundo ela, “Demonstrar que eu cometo falhas ajuda a criar um cidadão melhor, capaz de admitir suas falhas e perdoar a dos outros”. Renata também aproveitou a oportunidade para deixar um recado às mães deficientes: “Levar a maternidade com mais leveza e pensar que a falha acrescenta, não é um defeito. Por isso, devemos dar outros sentidos à falha”, completa.

Luciana Cunha, servidora do TRT8 na Vara de Altamira, pensava que ia ser o tipo de mãe centralizadora e “durona”, capaz de realizar todas as tarefas sozinha. No entanto, relatou no bate-papo que, na prática, não conseguiu exercitar essas características: “Meu marido é advogado e passa o dia inteiro fora de casa e a família dele é comerciante em Altamira. (…) Depois do primeiro mês do Vinícius (seu primeiro filho, de 6 anos), percebi que não iria conseguir tomar conta de tudo sozinha e me desesperei. Só depois de um tempo percebi que uma mãe não precisa estar com o filho todas as horas para ser uma boa mãe”. Com isso, ela aprende a cada dia a deixar seus filhos Vinícius e Luiz com outras pessoas, como babás e outras pessoas de confiança: “Hoje eu já deixo eles brincando com os filhos dos vizinhos, sob os cuidados deles. É importante para as crianças brincar e desenvolver as relações sociais”. Por fim, ela ainda conta que tira uma hora de cada dia para cuidar de si: “É importante que todos ao redor entendam a situação de uma mãe”.

A última a contar sua experiência na roda de conversa foi Renata Nóbrega, juíza do Trabalho do TRT da 6ª Região. Ela é casada com uma mulher e realizou o tratamento de reprodução assistida para conceber Bia, de 3 anos. Em um relato repleto de referências bibliográficas, como Guimarães Rosa e Karl Marx, Renata também contou como venceu um processo administrativo na Justiça do Trabalho, que concedeu Licença Maternidade às duas mães de Bia, o que abriu precedentes para vários outros casos ao redor do País. Segundo Renata, “uma das características que fazem a criança identificar que tem duas mães é a isonomia das duas, principalmente no tempo em que passam com ela. Então por quê uma passaria 6 meses e outra apenas 15 dias?” Ela também exalta as mulheres ao citar a teoria defendida pela filósofa e ativista italiana Silvia Frederici, que cita duas formas de trabalho: o ‘produtivo’ e o ‘reprodutivo’. Portanto, uma mãe que procura um trabalho produtivo estará trabalhando duas vezes e recebendo apenas um salário.

Ao final do bate-papo, a mediadora provocou as participantes a “deixar” algo para os filhos, uma mensagem. Coragem, honestidade e determinação foram algumas das palavras às quais as mães mais utilizaram para responder ao pedido.

O evento tem continuidade hoje (12), com a palestra “Direito e Desigualdade. Uma análise da discriminação das mulheres no mercado de trabalho a partir dos usos dos tempos”, ministrada pela juíza do Trabalho do TRT1, Bárbara Ferrito, e facilitada pela juíza do Trabalho do TRT8, Bianca Libonati Galúcio, com início programado para 15h.

Para assistir o bate-papo na íntegra, acesse este link.

Fonte: Assessoria de Comunicação (ASCOM) TRT8