Temas mais humanizados fazem parte da grade curricular do 24º CNFI

Juízes do trabalho participaram, nesta quinta-feira (2), no 24º Curso Nacional de Formação Inicial (CNFI), de aula sobre a invisibilidade social, espécie de preconceito praticado contra cidadãos denominados pela sociedade contemporânea como inferiores pelo fato de exercerem determinada profissão. De acordo com desembargador e conselheiro da Enamat Marcelo Souto de Oliveira, do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região (RJ), o debate é importante para que os juízes não se afastem da sociedade.

“Não é raro, nesse cenário de afastamento, que o juiz deixe de enxergar pessoas que não pertencem ao seu universo, e isso é um dos grandes perigos de quem tem poder ou autoridade”, destacou. Segundo ele, a aula busca enfatizar que uma das principais características de um juiz deve ser a humildade, que inclui “gostar de gente e fazer com que o outro não se sinta invisível”.

O desembargador descreveu o projeto implementado na Escola Judicial do TRT da 1ª Região para estimular os magistrados a vivenciarem por um dia o “trabalho invisível” de garis, copeiros e jardineiros. “Um juiz não pode perder a noção de que ele serve a sociedade. Por isso é tão importante provocar o incômodo, sair da zona de conforto.”

 

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Apagamento social

Vestindo um uniforme de gari, o professor doutor Fernando Braga também ministrou aula aos juízes que participam do CNFI e relatou sua experiência de invisibilidade social quando, ainda estudante de psicologia da Universidade de São Paulo (USP), teve de fazer um trabalho de campo como lixeiro por mais de nove anos. “No meu primeiro dia de trabalho, ao caminhar pelo pavilhão da Psicologia, local que, como estudante, eu frequentava diariamente, me dei conta de que ninguém me reconheceu. Eu, como gari, simplesmente não existia para aquelas pessoas”, assinalou.

Função social

O ministro José Roberto Freire Pimenta, do TST, que presidiu a mesa, ressaltou a importância de debates mais humanizados nos cursos de formação. “Temas como a alteridade, o reconhecimento recíproco, de como pensar a relação do magistrado com as partes exigem um contínuo e permanente esforço de compreensão do outro”, observou. Segundo ele, o ato de julgar vem revestido de uma função social. “É impossível exercer esse papel sem o exercício permanente da empatia, da autocrítica e do cuidado com os resultados da sua atividade.”

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Cinema e Debate

No período da tarde, como parte das aulas práticas, os juízes assistiram ao filme “Entre os muros da Escola”, que retrata os desafios diários de um professor em sala e as dificuldades de lidar com opiniões diferentes.
O 24º CNFI continua até 24/5 com palestras e seminários na parte da manhã e oficinas e laboratórios à tarde, unindo teoria e prática.

 

(AS/CF)