Dentro da proposta de educação colaborativa, a EJUD8 realizou sua primeira oficina com metodologias ativas 100% on-line, durante o Curso de Formação realizado de 17 à 28 de agosto de 2020.

A Oficina “Trabalho Remoto Eficiente – Organização e Gerenciamento da Vara do Trabalho e dos Serviços Jurisdicionais Respectivos” tinha como desafio a construção de um plano de gestão do trabalho virtual com a utilização de metodologia ativa, contemplando a operacionalização e o funcionamento da unidade judiciária, os instrumentos e as práticas adequadas ao trabalho virtual, a gestão dos servidores (horário, produtividade e meta adequada), o papel do diretor de secretaria e do juiz.

Para executar o desafio foi escolhida a Juíza do Trabalho Nazaré Medeiros Rocha, titular da 7ª Vara do Trabalho de Belém. A magistrada estuda e trabalha com o tema desde quando participou do Curso de Formação de Formadores em Metodologias Ativas, realizado no início de 2019 pela Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (ENAMAT). “Nazaré Rocha já utilizou a técnica nos 24º e 25º Cursos Nacionais de Formação Inicial (CFI) promovidos pela ENAMAT e no 10º CFI-EJUD8, onde foi muito bem avaliada. Ou seja, procuramos alguém com capacidade no tema e na metodologia”, explicou o Diretor da Escola Judicial do TRT8 – Desembargador Luis Ribeiro.

A seguir, uma entrevista com a Juíza Nazaré Rocha que admite: “Atuei algumas vezes nas Escolas Judiciais Regionais e Nacional, na maioria utilizando metodologias de ensino convencional, onde os resultados obtidos não eram tão promissores do ponto de vista do engajamento com o aprendizado do juiz/aluno, ao contrário dos resultados obtidos pelo uso das metodologias ativas, que se revelaram mais eficazes na parceria entre o professor e o aluno quanto ao desenvolvimento e assimilação eficaz do conteúdo do ensino”.

 EJUD8 – Como a senhora recebeu o desafio de realizar a oficina com metodologias ativas totalmente on-line, em um grupo de mais de 30 magistrados?

Nazaré Rocha – Recebi sob duas perspectivas. Uma, sentindo o peso da responsabilidade, pois não tinha, como não tenho ainda, notícia que alguma Escola Judicial já tivesse trabalhado com metodologia ativa no módulo 100% virtual. Portanto, esse ineditismo exigia um domínio técnico que eu ainda não possuía e que precisei me debruçar no estudo da técnica ativa, a fim de adequá-la totalmente ao modo remoto.

A segunda, com entusiasmo dos iniciantes, pois o novo normal que vivemos nesse momento, em decorrência da suspensão dos trabalhos presenciais na Justiça do Trabalho, impõe a aquisição de novas expertises, de novos saberes, especialmente quanto ao uso de metodologias ativas, que até então demandava forma ancorada, ainda que em parte, no modo presencial.

Pensar a realização de uma oficina de trabalho com metodologia ativa realizada de forma 100% virtual, para um número tão significativo de magistrados neste tipo de evento, foi algo completamente inédito para mim, mas que entendo fazer parte deste novo normal.

EJUD8 – Qual foi o ponto de partida para os recursos escolhidos na atividade?

Nazaré Rocha – O ponto de partida foi aprofundar meus estudos sobre metodologias ativas nas obras literárias acerca do assunto.

Deste estudo, escolhi a técnica chamada Matriz de Eisenhower, que ao meu ver mais se adaptava à temática solicitada pela EJUD8, qual seja: gestão de trabalho virtual.

Após a eleição da técnica, selecionei, dentre algumas das ferramentas virtuais de planejamento colaborativo disponíveis na rede mundial de computadores, a plataforma eletrônica denominada Miro, por ser o melhor aparato virtual para uso da técnica escolhida e em decorrência do objetivo proposto pela Oficina de Trabalho, que foi a construção de um Plano de Gestão de Trabalho Virtual.

EJUD8 – Como a senhora avalia o trabalho desenvolvido?

Nazaré Rocha – Depois da inquietação inicial, normal neste momento novo que assusta um pouco, penso que conseguimos alcançar o objetivo.

A escolha da técnica empregada e da plataforma eletrônica que foi utilizada na Oficina, mostrou-se eficaz, pois, ao final, conseguimos construir coletivamente e compartilhadamente o Plano de Gestão de Trabalho Virtual.

A participação efetiva e entusiasmada de todos os 30 juízes distribuídos em grupos de até 6 pessoas em cada uma das 5 salas virtuais, que funcionaram na realização dos trabalhos, aliada à utilização coletiva e concomitante da ferramenta eletrônica Miro, foi o ponto diferencial para o sucesso desta empreitada.

EJUD8 – A senhora acredita na efetividade da aprendizagem com a utilização de M.A. nesse novo formato totalmente a distância?

Nazaré Rocha: Ainda estamos começando no formato 100% virtual em metodologias ativas, engatinhando mesmo, por isso, precisamos de muito aperfeiçoamento, mas, no geral, creio que esta seja mais uma das várias possibilidades de aprendizado neste momento de isolamento social, via trabalho remoto.

A vida não para só porque os humanos estão sob ameaça de um vírus. Os desafios impostos ao longo da história da humanidade mostraram que nas crises é que são criadas as oportunidades de novos saberes. Acredito que este seja um novo saber, um novo recurso que pode ser utilizado no aprendizado 100% remoto, o qual soma com os já existentes, aperfeiçoando o uso das metodologias ativas.

A utilização 100% virtual das técnicas de metodologias ativas nos cursos de EAD, será mantida mesmo após o momento emergencial atual.

EJUD8 – A senhora acredita que com a pandemia a EAD ganhou espaço junto aos magistrados que ainda relutavam nesse modelo educacional?

Nazaré Rocha – Acredito fortemente que a EAD galgou espaço junto a magistratura neste momento de isolamento social. Inclusive, no meu sentir, muitos daqueles juízes que ainda eram resistentes a este tipo de aprendizagem, perceberam que somente com o uso de EAD permaneceram em aperfeiçoamento, ao mesmo tempo que se mantiveram  seguros em suas residências.

Outro ponto relevante foi a intensificação da oferta de cursos à distância pelas Escolas Judiciais Regionais e Nacional, o que também contribuiu para que esta prática se tornasse algo natural entre os Juízes do Trabalho.

Penso que, mesmo depois do retorno das atividades presenciais, a EAD será muito mais utilizada do que antes da pandemia, pois demonstrou alcançar um número cada vez maior de participantes, que aprenderam a utilizá-la ou a aprimorá-la.

EJUD8 – Qual sua perspectiva para o ensino dos magistrados?

Nazaré Rocha – Nesse sentido, a expertise de participação de cursos à distância, adquirida por um maior número de Magistrados durante esta pandemia, abre um leque de possibilidades para que as Escolas Judiciais treinem seus juízes de forma mais intensa,  visto que na forma presencial, no geral, eram realizados um curso por vez no espaço físico da Escola, enquanto que na modalidade EAD podem coexistir concomitantemente mais de um curso por vez, colaborando para o alcance de aprendizado amplificado.